Otávio Maia*
É fato que existem questionamentos e dúvidas, por parte de um público não muito informado do assunto, quanto a real preservação dos aspectos originais de uma obra de arte, após esta ser restaurada. Tais questionamentos associados à carência de alguns conhecimentos específicos, não raro, dão origem a críticas muitas vezes equivocadas, embasadas em suposições sobre a “originalidade” da obra. Por vezes condenando as restaurações ou comparando-as com recriações que alteram a apreciação e o “desfrute” da real obra de arte.
Um tratamento de restauração sobre uma obra de arte limita-se ao material do qual a mesma é construída, considerando-se que a sua significação enquanto arte é algo subjetivo, sendo impossível para o restaurador atuar sobre esse campo. De fato, o que se recupera são os elementos físicos e químicos que compõem a obra, não o seu conceito, visto que este lhe fora atribuído pela sua própria natureza de criação. Sendo os materiais que lhe dão forma, utilizados como veículo e suporte para a materialidade de um conceito abstrato. Logo, o que se restaura não é a obra de arte enquanto tal, mas a sua matéria.
A restauração há muito tempo deixou de ser uma atividade empírica, “artesanal”. Atualmente, estas ações estão amparadas em sólidas teorias fundamentadas em profundos processos do conhecimento científico e tecnológico. Variados ramos da ciência dão suporte para a prática do restauro, a exemplo da química, física, biologia, história, entre outras, oferecendo bases para um grande alcance no conhecimento da matéria da obra de arte; dos agentes que atuam na sua degradação; na sua interação com o meio ambiente; na busca pela melhor condição para a sua conservação; assim como em todo o processo prático de um tratamento de restauro, através de equipamentos e materiais de alta tecnologia. O domínio desses conhecimentos se faz essencial para a atividade de restauro, tornando-a bastante criteriosa e, suas possíveis intervenções, mais precisas.
Existem diferentes níveis de intervenção num tratamento de restauro sobre uma obra de arte, sempre direcionados a estabilizar e recuperar a resistência do material do qual a obra é constituída, não implicando necessariamente em maiores intervenções na sua imagem. Outros tratamentos, entretanto, podem exigir uma intervenção mais elevada, inclusive na imagem, porém, sempre partindo essencialmente de sua unidade potencial, que é a referência de capacidade contida na obra ou em seus fragmentos, para oferecer informações para sua recuperação. O nível de intervenção de um tratamento de restauro será sempre condicionado ao nível de degradação em que a obra se encontra e a função da restauração é devolver à obra, resistência e durabilidade do ponto de vista material e uma melhor apresentação estética.
*Jornalista
*Especialista em Conservação/restauração de obra de arte
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